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AF 447: Esperança das famílias em nova fase de busca









Quarta etapa de procura pelos destroços e caixas-pretas do Airbus da Air France que caiu no Oceano Atlântico em 2009 começa em fevereiro, após pressão das associações de vítimas em quatro países.

Fabiane Cavalcanti.

A quarta etapa de buscas no Oceano Atlântico pelos destroços do Airbus A330 da Air France, que caiu na noite de 31 de maio de 2009 quando fazia o voo 447 (do Rio para Paris), é considerada a primeira de fato bem planejada e com alguma chance de dar resultado. Essa é a opinião do geólogo alemão Wini Schmidt, pai de uma das 228 vítimas da tragédia e que esteve ontem no Recife para uma reunião com o procurador da República Anderson Vagner Gois dos Santos, que acompanha as investigações realizadas pelas autoridades francesas.

A participação do Ministério Público Federal (MPF) foi motivada por requerimento da Associação dos Familiares das Vítimas do Voo 447 (AFVV447) à Procuradoria-Geral da República. O processo foi remetido para a jurisdição de Pernambuco porque o Arquipélago de Fernando de Noronha é a área mais próxima do acidente, segundo o presidente da AFVV447, Nelson Faria Marinho. Foi Marinho quem trouxe Schmidt ao Recife para conversar com o procurador, que os atendeu apesar do recesso no MPF.

“Nossa intenção é fornecer, de forma voluntária, informações e questionamentos para auxiliar o trabalho do Ministério Público”, explicou Marinho, cujo filho Nelson Marinho, mecânico de engrenagens de 40 anos, morreu na tragédia. O procurador não foi localizado para comentar o encontro de ontem. O MPF participará de uma reunião no Recife, adiada de dezembro para março, com representantes do Escritório de Investigação e Análise para a Aviação Civil da França (BEA, na sigla em francês), da Polícia Federal e do 3º Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta 3).

Para Wini Schmidt – que perdeu a filha brasileira Júlia Miranda-Schmidt, de 27 anos, e o noivo dela, Alexander Crolow, 27, no acidente – a quarta etapa de buscas é, na verdade, a primeira. “A primeira e a segunda foram para nos acalmar. Houve muita dificuldade de logística. A terceira, por incompatibilidade de equipamentos, foi encerrada prematuramente. Agora está bem planejada, com equipamentos que podem vir a trazer algum resultado, apesar das dificuldades pois trata-se de um relevo montanhoso a 4 mil metros de profundidade. A esperança é achar as caixas-pretas”, avalia Schmidt, que acompanhou diversas reuniões preparatórias. Um sonar com capacidade de localizar grandes peças será utilizado com auxílio de robôs.

Schmidt – que trabalha no México e está em férias no Rio com a esposa brasileira – é membro das associações alemã e brasileira de famílias de vítimas do voo 447. Há ainda três associações na França (o grupo original dividiu-se após divergências) e uma na Itália. Foi por pressão dos grupos de familiares que as autoridades francesas anunciaram a nova etapa de buscas, marcada para fevereiro.

Também por exigência das associações, duas áreas “esquecidas” nas demais buscas devem ser vasculhadas. “A primeira é uma região onde o submarino francês Émeraude captou sinais, mas nunca foi revisada. A outra é o local onde surgiu uma mancha de óleo dois dias após o acidente”, diz Schmidt. Em visita ontem ao JC, ele e Marinho avisaram que caso as caixas-pretas sejam achadas, as associações exigirão que sejam analisadas por um grupo de especialistas internacionais e não somente por franceses.

DÚVIDAS

Apesar de esperançoso, Schmidt diz ter “grandes dúvidas” sobre o interesse das autoridades e das empresas envolvidas em descobrir as reais causas da tragédia. “Foi um acidente emblemático, único na aviação civil. E o relatório do BEA com 200 páginas simplesmente não chega a nenhuma conclusão. Diz - os pitots (medidores de velocidade) falharam. Mas não é só isso”, indigna-se.

“Era um voo em altitude normal. O avião atravessa uma área de fortes tormentas, há o congelamento dos pitots, os computadores de bordo emitem uma série de informações conflitantes e os pilotos não conseguem controlar o avião, que cai em quatro minutos”, relata o geólogo, que entregou ao procurador uma série de considerações baseadas em documentos técnicos sobre os aviões Airbus, os tubos pitot e as falhas de segurança atribuídas à Air France. Para ele, interesses econômicos impedem uma apuração acurada. “Como a Airbus pode admitir que tem algo errado em seus aviões?”, questiona.

A dor pela perda da filha não faz Schmidt ter medo de voar. “O que me preocupa é o relaxamento das empresas com as medidas de segurança”, afirma. “Isso não pode continuar. Vamos até o fim para esclarecer o acidente e responsabilizar criminalmente os culpados”, completa Marinho.

Fonte: JORNAL DO COMMERCIO / NOTIMP

Foto: Pawel Kierzkowski




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