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Adeus à sombra de Lula






Recato e formalidade nas ações palacianas, presença em reuniões de terceiro escalão, discrição e opção pela visita a locais de tragédia indicam claras mudanças no Planalto.

Novo governo

Brasília – A maior tragédia climática da história do país fez a presidente Dilma Rousseff alterar o padrão de comportamento. Na manhã de quarta-feira, ela decidiu que iria visitar a devastação ocorrida na Região Serrana do Rio de Janeiro, deixando de lado a discrição dos primeiros dias de Palácio do Planalto e saindo pela primeira vez de seu gabinete.

Dilma não só quebrou a própria rotina. Ela refez o modo como Luiz Inácio Lula da Silva lidava na Presidência com catástrofes e tragédias, explicitando apenas uma das diversas mudanças que mostram que o Planalto está sob nova gerência. O ex-presidente fazia uma análise dos fatos e só visitava um local quando tinha certeza de que renderia dividendos políticos. O acidente da TAM no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, por exemplo, teve a presença apenas do ministro da Defesa, Nelson Jobim.

A decisão de Dilma de entrar na lama teve Jobim como um dos principais entusiastas. Alguns assessores chegaram a desaconselhar a visita. Ela bateu o pé e fez questão de ir até a linha de frente. A avaliação que predominou é de que a população e as vítimas precisavam sentir que o poder público não as abandonou. E a decisão foi tomada quando o número de mortos estava próximo da tragédia do ano passado e não havia ainda se transformado na pior catástrofe climática do país.

Dilma vinha monitorando os efeitos quando a chuva fazia estragos em São Paulo. Desde sexta-feira da semana retrasada, mantinha linha aberta com o prefeito da capital paulista, Gilberto Kassab (DEM). A partir de segunda-feira, começou também a monitorar também o Rio de Janeiro, com conversas com o governador fluminense, Sérgio Cabral (PMDB).

MARCA A decisão de visitar as vítimas in loco não é a única mudança de comportamento nestes primeiros 15 dias de Presidência. Dilma é mais formal do que Lula. A primeira reunião do dia é feita com os ministros Helena Chagas (Comunicação Social), Antonio Palocci (Casa Civil), Gilberto Carvalho (Secretaria Geral), que saiu de férias esta semana, e José Elito (Gabinete de Segurança Institucional). Eles são os responsáveis por dar o primeiro briefing do dia. Nessas conversas, Lula geralmente fazia piadas, brincava e falava palavrões com os participantes. Dilma é polida, educada, mais objetiva.

O perfil mais discreto reflete-se no relacionamento com a imprensa. Ela pretende dar menos entrevistas, mas não fugir do diálogo com a sociedade. Dilma dará mais peso à palavra da Presidência da República. O porta-voz terá atuação mais ativa. Ela nomeou para o cargo o diplomata Rodrigo Baena, que trabalhou no primeiro mandato do presidente Lula como assessor de André Singer (ex-porta-voz de Lula).

OBSESSÃO A mudança mais significativa reflete-se na quase obsessão da presidente por melhorar a gestão pública. Um exemplo é uma reunião sobre dengue. Dilma subiu ao quarto andar do Planalto para interagir em um encontro para discutir a doença na Casa Civil. Ouviu os presentes, pediu e cobrou explicações e determinou agilidade. Poucos dias depois, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, apresentou o plano de ataque. É raro um presidente participar de reunião de funcionários de terceiro escalão. Não há registro de Lula ter participado de conversas nas pastas palacianas fora de seu gabinete .

Dilma também pretende reduzir a agenda internacional. Como o foco do primeiro ano é em melhoria da gestão pública e na qualidade do investimento, ela será econômica nas visitas a chefes de estado estrangeiros. Está marcada uma viagem pelos países do Mercosul – Argentina, Paraguai e Uruguai –, além de visitas programadas à China e aos Estados Unidos. Dilma está empenhada em melhorar a relação com o presidente norte-americano, Barack Obama.

Pausa para descanso
A presidente Dilma Rousseff aproveitou o fim de semana para descansar em Porto Alegre (RS). Ela chegou à cidade às 22h30 de sexta-feira, acompanhada pela filha, Paula, e pelo neto, Gabriel, de quatro meses. Foi direto para o seu apartamento no Bairro Assunção. É a primeira visita da presidente à cidade, onde mora a família, desde a posse, há duas semanas. Ontem, ela permaneceu descansando em seu apartamento, sem compromissos públicos. Dilma deve retornar a Brasília na noite de hoje.

Transição ao "dilmismo"

Em 15 dias, Dilma imprimiu alterações em estruturas vistas como intocáveis em oito áreas

Josie Jeronimo

O governo é de continuidade, mas, em 15 dias à frente da Presidência, Dilma Rousseff instruiu seus ministros a realizarem vários ajustes em estruturas inalteradas durante os oito anos de Luiz Inácio Lula da Silva. Defesa, Justiça, Previdência, Cidades, Desenvolvimento Econômico e Secretaria-Geral da Presidência já receberam o toque pessoal de Dilma.

Assim que recebeu a faixa, a caneta e se tornou senhora da Esplanada e do Diário Oficial da União, a presidente não se acanhou em promover mudanças. Tirou a Secretaria Nacional Antidrogas (Senad) do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e o entregou ao Ministério da Justiça; transferiu o Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam) da Casa Civil e o devolveu ao Ministério da Defesa.

A gestão do programa Minha casa, minha vida também é avaliada com lupa. Nas primeiras semanas, o Ministério das Cidades já fez remanejamento de verbas destinadas à versão rural do programa. O esforço para “arrumar a casa” também já produziu estratégias para reduzir o rombo da Previdência. A Advocacia-Geral da União (AGU) tentará substituir os processos judiciais por acordos para receber de empresas devedoras do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) ressarcimento por gastos da Previdência com benefícios relacionados a acidentes de trabalho.

A invasão de produtos chineses, que não encontrou resistência durante o governo Lula, é uma preocupação de Dilma. A presidente mobilizou pelo menos três Ministérios — Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio Exterior, Ciência e Tecnologia e Fazenda — para que elaborem políticas e reduzam a presença dos produtos no mercado brasileiro. A atuação da Secretaria-Geral da Presidência também será reformada. Dilma conta com Gilberto Carvalho para manter controlada a temperatura dos movimentos sociais e se antecipar às demandas para evitar crises.

O estilo “silencioso” nos primeiros dias de governo, analisa o cientista político Paulo Kramer, também é uma “reforma” no governo. “É uma Presidência silenciosa. Mostra que Dilma segue suas inclinações.” O professor da Universidade de Brasília (UnB) aponta que o primeiro ano de governo será fundamental para a transição do lulismo ao “dilmismo” e que, apesar de a administração continuar nas mãos do PT, somente a permanência de ministros do governo anterior no cargo dá a impressão de continuidade. “Ela manteve Ministérios para demonstrar gratidão a Lula. Isso contribuiu para que haja essa falsa impressão de continuidade”, afirma o cientista político.

Kramer observa que dos ministros lulistas o único que deve continuar na Esplanada durante os quatros anos é o chefe da Casa Civil, Antonio Palocci. “O Palocci vai continuar desempenhando papel importante. É conhecido como zagueiro político do governo anterior e exercerá esse papel no governo Dilma.” Além da estrutura ministerial, Dilma terá que contar com Palocci no papel de “algodão entre os cristais”, para contornar o fogo amigo que pode nascer do deslocamento interno de poder no PT, afirma o cientista político.

O dedo da presidente

Previdência – Portaria da AGU tentará substituir processos judiciais por acordos para receber de empresas devedoras do INSS ressarcimento por benefícios relacionados a acidentes de trabalho.

Secretaria Nacional Antidrogas – O Ministério da Justiça ganhou a estrutura que pertencia ao Gabinete de Segurança Institucional (GSI).

Centro Gestor do Sistema de Proteção da Amazônia – O órgão pertencia à Casa Civil e agora terá coordenação militar.

Ministério das Cidades – Gestão do Minha casa, minha vida está sendo revista. O governo remanejou recursos dos estados, levando em conta a demanda do programa.

Redução do mercado de produtos chineses – Ação dos Ministérios de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia e Fazenda para reduzir a invasão no mercado brasileiro.

Fonte: ESTADO DE MINAS / NOTIMP




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