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Para a Infraero, quanto mais cheio, melhor









Com os aeroportos lotados, a Infraero lucra nos aluguéis de lojas.

Pode ser um primeiro passo para a abertura de capital.

Murilo Ramos.

Para os brasileiros que viajam de avião, os aeroportos nacionais lembram problemas. Eles representam filas longas, poucos lugares para sentar, tempo perdido em espera, voos atrasados, voos cancelados. Graças ao bom momento da economia, no ano passado cerca de 60 milhões de pessoas viajaram de avião no país. A infraestrutura deficiente fez com que esse aumento na demanda se tornasse um problema para a Infraero, estatal que administra os 67 aeroportos do país. Se é alvo de queixas por causa disso, a Infraero também tem sabido aproveitar o lado positivo do fenômeno. O aumento na demanda e a perspectiva futura de um crescimento ainda maior, devido à realização da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016, têm gerado lucros expressivos à estatal. Há uma corrida em busca de espaço nos aeroportos. Em licitações recentes para alugar espaços a lojas e restaurantes, a Infraero tem visto seu caixa engordar.

Num leilão recente, a rede de lanchonetes McDonald’s ofereceu um aluguel de R$ 654.300 mensais por 600 metros quadrados no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, o maior do país. O preço mínimo era R$ 178 mil, e os outros dois concorrentes não ofereceram nem R$ 300 mil mensais. No aeroporto de Brasília, o terceiro mais movimentado do país, o grupo R.A. concordou em pagar R$ 169 mil mensais para instalar um restaurante da marca Viena. Em Salvador, um franqueado da rede de lanchonetes Bob’s ofereceu R$ 192.300 por 205 metros quadrados. “O faturamento deverá crescer 20% neste ano”, afirma o diretor comercial da empresa, Geraldo Neves. Neste ano, a Infraero acertou 540 novos contratos com concessionários. A expectativa é que haja entre 250 e 350 renovações por ano daqui para a frente.

O recrudescimento da concorrência pelo espaço nos aeroportos tem gerado queixas entre os donos de lojas menores. Eles reclamam que não conseguem acompanhar a alta dos preços nas licitações. “Parece que o objetivo da Infraero é ter de seu lado apenas os grandes grupos”, diz o presidente da Associação dos Concessionários do Aeroporto de Brasília (Ascab), Vinícius Lisboa. “Esquece os micros e pequenos, que sempre estiveram ao lado da empresa, mesmo quando nem se falava em Copa do Mundo e Olimpíadas.” Parte dos pequenos comerciantes tinha contratos de oito anos, com possibilidade de prorrogação por mais cinco – apenas uma opção, de acordo com a Infraero. Nos últimos meses, concessionários menores entraram com ações judiciais para continuar operando suas lojas. Eles afirmam que havia a expectativa de que seus contratos fossem prorrogados e que as novas empresas repassarão o alto valor dos aluguéis a seus preços. A Associação buscou a ajuda de parlamentares, como a deputada Lídice da Mata (PSB-BA), que esteve com o presidente da estatal, Murilo Marques.

Se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva comemorou o direito de o Brasil sediar a Copa e as Olimpíadas, a presidente eleita, Dilma Rousseff, ficou com a parte difícil. Uma das travas a remover está justamente na Infraero. O plano é retirá-la da esfera do Ministério da Defesa. A Infraero deve passar a fazer parte de uma secretaria ligada diretamente à Presidência da República. Outro plano é abrir o capital da estatal, com a venda de até 49,9% de suas ações. “A presidente eleita analisa com extremo cuidado o assunto, especialmente pela relevância que ele tem para o país no geral e pelos grandes eventos esportivos que vamos realizar”, afirma a futura ministra do Planejamento, Miriam Belchior.

A ideia de abrir o capital da Infraero não é nova no governo. Entre os documentos vazados pelo site Wikileaks, uma mensagem enviada a Washington no dia 25 de janeiro de 2008 trata do assunto. O então embaixador americano no Brasil, Clifford Sobel, relata uma conversa com o ministro da Defesa, Nelson Jobim. Na ocasião, Jobim teria dito que os problemas da estatal eram tão grandes que ela ainda não estava preparada para receber aportes financeiros. Convencer investidores a destinar recursos para uma empresa que acumulou demandas ao longo dos anos e sofreu acusações de desvio de dinheiro pode ser uma acrobacia. Atrair investidores exige, portanto, tornar a Infraero um negócio mais promissor. Um dos fatores essenciais seria aumentar sua capacidade de investir. “A Infraero investe cerca de R$ 700 milhões por ano”, diz o diretor Geraldo Neves. “O ideal seria investir pelo menos R$ 1 bilhão.”

Em 2008, o Ministério da Defesa encomendou ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) um estudo sobre a possibilidade de contar com investidores privados. Após dois anos, o BNDES entregou um estudo para orientar a abertura de capital. Noutra frente, a Infraero passou por uma limpeza. Durante sua gestão, o brigadeiro Cleonilson Nicácio demitiu quase 100 ocupantes de cargos de confiança por causa de ligações políticas. Entre eles um irmão do senador Romero Jucá (PMDB-RR) e a ex-mulher do deputado federal e líder do PMDB na Câmara Henrique Eduardo Alves (RN).

A caminhada da Infraero até a abertura de capital promete ser longa. A estatal terá de adotar as rígidas regras de transparência exigidas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e adotar uma gestão profissional. Trata-se de uma oportunidade única para Dilma se distanciar da nefasta interferência política que marca a história da Infraero – e seguir uma rota menos turbulenta até a Copa e as Olimpíadas.

Fonte: REVISTA ÉPOCA, via NOTIMP




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