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Anac quer acelerar formação de pilotos









Nova regra proposta para a aviação civil permite substituir a experiência de voo real por treino em simulador.

Medida foi posta em audiência pública na internet e atende a critérios estabelecidos por agência da ONU.

Mariana Barbosa.

A Anac (Agência Nacional de aviação Civil) quer introduzir no Brasil uma nova certificação que poderá acelerar e baratear a formação de pilotos para a aviação regular, substituindo o treinamento em voo por simulador.

As novas regras para a Licença de Piloto de Tripulação Múltipla (MPL, da sigla em inglês) seguem critérios da OACI, órgão das Nações Unidas responsável por padrões de segurança na aviação.


As regras integram proposta de modernização da regulamentação de certificação de pilotos que a Anac colocou em audiência pública, via internet, no mês passado.

Contribuições podem ser feitas até sábado. A expectativa é que a medida entre em vigor até março.

"Isso vai ajudar a reduzir o gargalo na formação de pilotos", diz o superintendente de segurança operacional da Anac, David Faria Neto.

A substituição do voo real por simulador divide opiniões. Os EUA não adotaram esse modelo, criado em 2006. Ao contrário. Após um acidente da Colgan Air em 2009, em que ficou comprovado erro dos pilotos, o Congresso começou a discutir a possibilidade de exigir mais horas de voo de formação.

Por outro lado, empresas reconhecidas pelo padrão de segurança, como Lufthansa e Emirates, contratam pilotos sem experiência e investem na sua formação.

A MPL prevê um mínimo de 240 horas de experiência para copiloto, que podem ser cumpridas integralmente em simulador.

O entendimento é que horas em um simulador idêntico ao avião que o piloto encontrará na vida real terão mais qualidade do que voos em aviãozinho de aeroclube.

FIM DA VARIG

Pela regra em vigor, para se candidatar a copiloto de empresas regulares é preciso ter uma habilitação de piloto comercial com pelo menos 150 horas de voo. Essa formação custa cerca de R$ 35 mil e é bancada pelo profissional.

Nos últimos anos, com a derrocada de Varig, Transbrasil e Vasp, TAM e Gol se beneficiaram da oferta de profissionais experientes e passaram a exigir de 1.000 a 1.500 horas de experiência para contratar copilotos.

Mas a oferta de mão de obra qualificada praticamente acabou. Com o fim da era Varig, quando pilotos experientes podiam ganhar de R$ 20 mil a R$ 30 mil por mês, a profissão ficou menos atraente.

Por isso as empresas começaram a investir em centros de formação, e a Anac passou a oferecer bolsas.

As empresas aéreas não sabiam da audiência pública, mas gostaram. "Precisamos de medidas assim, que resolvam a situação com mão de obra brasileira", diz Ronaldo Jenkins, diretor técnico do Snea, o sindicato das empresas aéreas.

O Snea já defendeu projeto de lei que permite a importação de pilotos estrangeiros, mas mudou o discurso. A avaliação é que a abertura vai atrair apenas pilotos de países com padrão de segurança inferior ao brasileiro.

A falta de pilotos foi responsável por problemas recentes na Webjet. A empresa perdeu cerca de 30 profissionais para as concorrentes nacionais e não teve tempo de repô-los. Já pilotos de TAM e Gol são constantemente assediados pelas estrangeiras.

Agência oferece bolsa para curso de piloto

Desde 2008, a Anac já investiu R$ 5 milhões na formação de 347 profissionais para os setores privado e comercial.

Para a agência, hoje não há falta de mão de obra no mercado brasileiro.

Crescimento do setor deve se estabilizar.

Ramon Mendes Pereira, 25 anos, já vendeu bala no sinal, foi office boy de uma confecção do Bom Retiro e caixa de farmácia.

Hoje ele é agente de aeroporto da TAM, responsável pelo despacho de passageiros no embarque. Seu sonho é ser piloto. "Eu me encantei com esse negócio de voar."

Formado em administração com a ajuda da dona da confecção, ele já tirou brevê de piloto privado (amador) -formação que custa em torno de R$ 14 mil.


Sem recursos para bancar a licença de piloto comercial (R$ 35 mil), ele frequenta curso de DOV (despachante de operação de voo). "Com o salário maior de DOV, quero pagar o curso de piloto comercial", diz ele.

Responsável por auxiliar o piloto antes do voo fornecendo informações sobre carga e performance da aeronave, o DOV ganha entre R$ 3.000 e R$ 5.000.

Para se habilitar, basta o ensino médio e um curso técnico. Mas a profissão é pouco conhecida. De janeiro a novembro, a Anac emitiu apenas 52 habilitações.

O crescimento de 25% do setor em 2010 pegou as empresas desprevenidas. No final do ano passado, a expectativa era de um crescimento de 8,5% para o setor.

"O planejamento teve de ser refeito e o problema é que a maior parte das funções requer curso especializado, e essa formação leva tempo", diz Ronaldo Jenkins, diretor técnico do Snea.

Para estimular pessoas como Pereira, que não têm condições de arcar com altos custos das horas de voo necessárias para a formação, a Anac está oferecendo bolsas que cobrem 75% dos gastos.

Desde 2008, a agência investiu R$ 5 milhões para formar 347 pilotos privados e comerciais. A Anac também está investindo em mecânicos de avião. Até o final de 2011, 914 mecânicos chegarão ao mercado, ao custo de R$ 1,8 milhão.

"Hoje não tem falta de piloto ou de outros profissionais da aviação. Se vai faltar, dependerá do ritmo de crescimento", diz Paulo Henrique de Noronha, superintendente de capacitação da Anac. "Hoje estamos crescendo muito. Mas esse ritmo deve se estabilizar."

O Brasil possui 5.470 pilotos de linha aérea habilitados. Só na TAM e na Gol, que dominam mais de 80% do mercado, são 3.949. Há ainda de 500 a 600 no exterior.

Neste ano foram emitidas 1.069 licenças de piloto, sendo cerca de dois terços de piloto comercial e o restante de linha aérea.

Se há uma categoria em que não falta gente é a de comissário. Para servir lanche a bordo, basta o ensino médio e um curso de cinco meses.

Ingrid Lima, 20, não tem ilusões quanto à (velha) fama de glamour da profissão. Frequenta um curso de comissário pensando em um salário melhor do que o que ganha conferindo exames de laboratório.

Fonte: FOLHA DE SÃO PAULO, via NOTIMP

Foto: AZUL



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